De vales e abismos: reflexões clínicas sobre suicídio assistido (artigo, 2022)
Cadernos Junguianos | n.o 16, 2022 | 234-244
Sinopse: Este artigo examina a questão do suicídio assistido sob a ótica do trabalho analítico realizado na psicologia clínica. A partir do conto intitulado Sul, do autor português José Luís Peixoto (2003), cujo tema central é o suicídio, proponho algumas reflexões sobre essa forma específica de suicídio, tendo como fio condutor o livro Suicide and the Soul, do psicólogo americano James Hillman (2007), teórico da psicologia arquetípica que aprofunda e avança as ideias da psicologia analítica desenvolvidas por Carl G. Jung, em uma tentativa de interlocução entre esse fenômeno – essencialmente um fenômeno da esfera biomédica mas também da esfera jurídica – e o espaço analítico.
Palavras-chave: Suicídio. Suicídio assistido. Psicologia Arquetípica. Psicologia Analítica. Alma.
Abstract: This paper examines the subject of assisted suicide under the viewpoint of the analytical work performed in clinical psychology. Using as a starting point the short-story Sul by the Portuguese writer José Luís Peixoto (2003), whose central theme is suicide, I discuss some aspects of this specific kind of suicide. Based on the book Suicide and the Soul by the American psychologist James Hillman (2007), founder of the archetypal psychology whose work deepened and advanced the ideas of the analytical psychology by Carl G. Jung, the paper aims at creating a dialogue between this phenomenon, that essencially belongs to the biomedical domain but also to the juridical domain, and the analytical setting.
Keywords: Suicide. Assisted suicide. Archetypal Psychology. Analitical Psychology. Soul.
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Geografias corporais: dança, corpo e deficiência (ensaio, 2020)
Ana Gilbert e Paulo Kellerman
Interface – Comunicação, Saúde, Educação
O projeto Geografias Corporais resulta de uma parceria entre dança, fotografia e literatura, entre artistas do Brasil e de Portugal, entre academia e arte. São narrativas imagéticas e literárias em torno do diálogo entre múltiplas corporeidades, com o intuito de desestabilizar a ideia de corpo normal como universal. Surge do interesse em analisar como corpos normativos e não normativos experienciam a dança como forma de habitar suas geografias corporais e de definir seus contornos físicos, psíquicos e discursivos na relação entre movimento e imobilidade. O trabalho foi realizado com participantes do grupo Te Encontro Lá no Cacilda, em 2018, configurando uma pesquisa artística. As narrativas de corporeidade produzidas ao dançar foram captadas e traduzidas em fotografias, configurando textos visuais que, posteriormente, somados a conversas entre fotógrafa e escritor, serviram de base para a criação de textos ficcionais.
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Palavras de mim | Para onde vai o tempo? Relatos e ficções à volta de contextos de vulnerabilidade (capítulo, 2020)
Elsa Margarida Rodrigues, Paulo Kellerman e Patrícia Grilo, editores | EAPN Portugal – Rede Europeia Anti-Pobreza
“Alice Catarino, Beatriz Passão e Jorge Cardinali abrem-nos janelas para as suas vidas; Manuel Leiria, Nuno Henriques e Jacinto Duro desvelam-nos, com eles, outros recantos dessas casas; Bruno Gaspar, Lisa Teles e Maraia impregnam-nos a imaginação de cor e forma; Elsa Margarida Rodrigues, Mónia Camacho e Paulo Kellerman inundam-nos da luz dos sonhos; Ana Gilbert preenche-nos da matéria que liga as entranhas do espaço e do tempo.
Três cidadãos, três escritores, três ilustradores, três jornalistas e uma investigadora reunidos para dar corpo literário-artístico-jornalístico a uma ideia nascida no Núcleo Distrital de Leiria da EAPN Portugal e acolhida pelo Diário de Leiria, o Jornal de Leiria e o Região de Leiria.”
O projeto da EAPN Portugal, que resultou nesta publicação, proporcionou um canal de expressão para que pessoas em condições de vulnerabilidade reencontrassem palavras para falar de si diferentes das que são ditas socialmente sobre eles (drogados, fracos, incapazes, desocupados, parasitas, etc), e não apenas para relatar fatos. Cada um dos participantes, à sua maneira, escolheu o quê contar e como, num processo de revelação pela escrita que, como aponta Michel Foucault, ao criar imagens sobre si e sobre a própria história e partilhá-las com o público, permite a construção de novos discursos de verdade sobre seus corpos, pensamentos e formas de ser, resultando em novos rearranjos do eu. Os textos literários, imagéticos, jornalísticos e teórico criados a partir das ficções pessoais dialogam com as histórias; junto com elas, criam imagens que contribuem para a reflexão sobre situações de vida semelhantes, e nos convidam a perguntar sobre os olhares, as palavras e os gestos que usamos nas nossas relações com o outro no mundo e com o outro em nós.
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Narrativas sobre síndrome de Down no Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência Assim Vivemos (artigo, 2017)
Interface – Comunicação, Saúde, Educação
O Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência Assim Vivemos acontece bienalmente no Brasil desde 2003. Busca engajar a audiência em novas perspectivas sobre deficiência por meio de filmes, atividades interativas, imagens e discursos institucionais. Neste artigo, analisam-se os filmes cujo tema central é a síndrome de Down, exibidos entre 2003 e 2013, com o objetivo de examinar o tipo de construção narrativa e as imagens e os significados sobre pessoas com essa condição que são veiculados no festival. Foram utilizadas estratégias etnográficas no tratamento do material empírico e procedimentos semióticos de leitura isotópica na sua análise. Foram identificados três núcleos narrativos principais que acompanham o desenvolvimento teórico sobre deficiência, sendo que um deles apresenta-se alinhado com o que tem sido denominado de ‘estética da deficiência’.
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Disability Film Festivals: Biological Identity(ies) and Heterotopia (capítulo no livro Activist Film Festivals, 2016)
Este capítulo examina o papel político dos festivais de cinema sobre deficiência, usando como caso o Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência Assim Vivemos, que acontece no Brasil desde 2003. Considerando esse tipo de festival como um espaço para produção de verdade sobre pessoas com deficiência e a sua contribuição para o fortalecimento de novas subjetividades, o texto parte da noção de heterotopia de Michel Foucault para desenvolver o argumento de que o festival brasileiro pretende ser um outro espaço, que pode ser definido como heterotópico, para exibir diferentes realidades sobre indivíduos com deficiências e demarcar novos entendimentos sobre os corpos humanos. Ao fazê-lo, o festival exerce uma influência sobre a percepção e a conduta dos espectadores, por meio dos filmes, de estratégias formativas e imagens e discursos institucionais, que contribuem para formar uma audiência em termos éticos e políticos com relação à deficiência.
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Brazil’s International Disability Film Festival Assim Vivemos (artigo, 2014)
NECSUS – European Journal of Media Studies
Tomando como ponto de partida a 6ª edição do Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência Assim Vivemos, realizada em 2013, este artigo discute algumas questões relevantes para o campo da deficiência, sob a perspectiva teórica de Michel Foucault.
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Vértice do impensável: um estudo de narrativas em síndrome de Down (livro, 2012)
O propósito deste livro é analisar as imagens culturalmente produzidas que são disseminadas em narrativas escritas e iconográficas sobre síndrome de Down (SD), tais como filmes, campanhas, livros e blogs escritos por pais de crianças com SD e artigos em jornais e revistas publicados entre 2000 e 2009. Foi adotada uma atitude etnográfica diante do material coletado, com ênfase no conteúdo implícito. O material foi submetido à análise semiótica, com uso de procedimentos metodológicos baseados na análise isotópica de Algirdas Julien Greimas, e sua representação gráfica, o quadrado semiótico, como técnica analítica complementar.
Neste livro, a SD é entendida como uma paisagem biológica emergente na biopolítica contemporânea, sendo levado em consideração como as características peculiares desta última influenciam o processo de produção de verdade sobre os indivíduos com SD. O livro oferece uma análise crítica sobre os movimentos sociais, e seus produtos, relativos a esses indivíduos, e discute o processo de construção de identidade na presença de uma condição genética. A análise torna explícita uma ideia socialmente construída e interativa sobre a pessoa com SD, ideia essa que se expressa por meio de significados, atitudes, valores e crenças presentes nas narrativas.
Meu trabalho se situa na interseção entre as Ciências Humanas, as Ciências Sociais e a Saúde Pública, sendo de interesse para estudiosos dessas áreas, bem como para os Estudos sobre Deficiência e os Estudos Culturais. O livro provê elementos para a discussão de como os conhecimentos especializado e não-especializado se entrelaçam para moldar significados sobre a SD. Além disso, contribui para o atual debate sobre cidadania biológica e o governo da vida.
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Discursos médicos em construção: um estudo com residentes em Obstetrícia/Ginecologia do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz (artigo, 2009)
Revista Brasileira de Educação Médica
Este estudo discute a construção do discurso especializado, a partir do verbalizado por médicos após dois anos de residência médica em Obstetrícia/Ginecologia no Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz. A pesquisa foi operacionalizada em duas etapas: observação participante de reuniões clínicas da Obstetrícia e da Ginecologia e construção de fontes orais. Foi realizada análise semiótica das notas de campo e do material transcrito das entrevistas. Os resultados giram em torno de dois eixos: a caracterização do perfil do médico obstetra/ginecologista e a convivência com o normal e o estranho no contato com as pacientes, como integrantes da construção do discurso especializado, no ambiente escolhido para a pesquisa. Conclui-se que a residência conduz ao discurso especializado, escudado, principalmente, na utilização de exames complementares, como os que fornecem imagens, visto que tais exames são percebidos como revelando objetivamente o corpo real. Tal fato infunde segurança nos residentes, mas, por outro lado, afasta-os da atenção à escuta da história da paciente e da composição da narrativa médica, fragmentando o processo de exercício da semiologia clínica.
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Mulher, Medicina e tecnologia nos discursos de residentes em Obstetrícia/Ginecologia (artigo, 2006)
Este estudo objetivou explicitar os significados culturais sobre a mulher e seu processo de adoecimento que estão presentes nos discursos médicos de residentes em Obstetrícia/Ginecologia do Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz. A pesquisa foi realizada em duas etapas: observação participante e construção de fontes orais. Tendo como referência o modelo indiciário, o procedimento técnico-metodológico utilizado incluiu uma codificação analítica qualitativa das entrevistas e posterior análise semiótica. Os resultados apontam para: (a) a percepção da mulher como essencialmente mãe, cujo processo de adoecimento é focado prioritariamente em sua função reprodutiva; (b) o crescente aumento do uso de tecnologia, sobretudo nos exames por imagem, provocando um distanciamento do eixo semiológico da Medicina; e (c) a medicalização, inserida no contexto biotecnológico, como envolvendo práticas materiais-semióticas.
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Médicos residentes e suas relações com/e no mundo da saúde e da doença: um estudo de caso institucional com residentes em Obstetrícia/Ginecologia (artigo, 2006)
Interface – Comunicação, Saúde, Educação
Investiga-se a percepção dos médicos que concluíram a residência em Obstetrícia/Ginecologia no Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, em 2004, sobre essa trajetória. A pesquisa constou de duas etapas, observação participante e construção de fontes orais, procedendo-se a uma codificação analítica qualitativa de todo o material coletado para posterior análise semiótica. Busca-se compreender a herança cultural enraizada no discurso dos residentes sobre suas relações com/e no mundo da saúde e da doença, em particular: desvalorização da profissão, ressentimento pela perda de poder do saber médico, percepção da medicina mais como negócio do que como ofício, incertezas pela duplicidade de papéis – aluno e profissional, dificuldade diante do sofrimento e da morte.